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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Manchete...

Washington José da Silva sempre gostou de som. Favorecido pela malemolência herdada da raça rebolava embalado por pagodes e axés e, acreditando contribuir para a alegria do povo, empenhou-se em levar aos ouvidos alheios, impreterivelmente em volume máximo, suas predileções musicais.
Quando garoto acordava o cortiço todo ao ligar os alto-falantes na porta de casa, aos domingos, oito da manhã. Pouco mais velho começou a trabalhar e, com seu primeiro ordenado, em vez de matricular-se na computação, como gostariam seus pais, comprou um moderníssimo reprodutor portátil de MP3. Não queria processar dados. Rapaz de visão, sua vontade mesmo era entreter pessoas, de graça e mesmo que a contragosto.
Depois da primeira bugiganga sonora os dias nunca mais foram iguais, as caminhadas ficaram mais alegres, a vida mais colorida e até os trajetos percorridos de ônibus, naquele aperto e mau-cheiro, tornaram-se mais animados. Não tinha um, dentro do coletivo, que não ouvisse o som emitido por seu MP785.
Dezoito anos e adquiriu seu primeiro carro, oitocentos reais por um fusca setenta e dois, azul-calcinha. No sacrifício conseguiu juntar mais seis mil reais para sonorizar o possante e, quase realizado, passou a desfilar pelas ruas espalhando cultura. Ficou famoso por seus atos. Onde quer que fosse virava assunto: - Lá vai o Zé!
Infelizmente, na última madrugada, estacionado em um posto de gasolina onde havia uma reunião de motociclistas metaleiros, ao ligar um cd com o último hit do funk carioca, Washington foi espancado até sua morte.
Morreu aos vinte e dois anos, sem concretizar seu sonho de ter um trio elétrico.

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